IA e a construção de infraestrutura
Os anúncios recentes de gastos massivos em IA por empresas como Meta e Microsoft assustaram alguns investidores. Porém, vamos aos fatos: esse capital não desaparece no éter das ideias. Ele tem destino claro e imediato — hardware e infraestrutura. Isso significa que fabricantes de semicondutores, fornecedores de servidores, operadores de data centres e empresas de componentes devem ver receita rápida e previsível à medida que as gigantes executam seus planos de capex (investimento em capital).
A lógica é simples e antiga. Quando uma corrida tecnológica começa, nem sempre a melhor aposta é no software mais promissor, muitas vezes especulativo. Mais seguro e pragmático é investir nos chamados "picks and shovels", expressão que define os fornecedores das ferramentas da revolução. Em português: quem fabrica os chips, monta os servidores, cria as soluções de refrigeração e provê equipamentos de rede. Esses fornecedores reconhecem receita no curto prazo porque vendem produtos tangíveis que as big techs precisam agora.
Quem captura essa demanda? Exemplos claros: NVIDIA, TSMC e Intel. A NVIDIA domina GPUs para treinamento e inferência de modelos de IA; a TSMC é a grande fundição que transforma desenho em silício; a Intel segue relevante nos processadores de data centre e vem investindo em chips especializados. Esses nomes ilustram como a cadeia de valor se beneficia quando grandes clientes aprovam ciclos de capex extensos.
A vantagem para o investidor é a previsibilidade. A construção de data centres e fabs é multi-anual. Projetos de grande escala dão visibilidade de receita por vários trimestres, às vezes anos. Isso contrasta com apostas em empresas de software que dependem de aceitação de mercado incerta. Ademais, políticas públicas como o CHIPS Act nos EUA reduzem riscos sistêmicos ao incentivar produção local de semicondutores, o que tende a sustentar capex e canais de venda.
Existe mercado adicional além dos chips. A demanda por memória de alta velocidade, armazenamento de alto desempenho, soluções avançadas de refrigeração e gestão de energia cresce em paralelo. Fornecedores de equipamentos de manufatura de chips (fabs) também enfrentam níveis de utilização historicamente altos, o que lhes confere poder de precificação e margens em curto prazo.
Mas não é um caminho sem riscos. O setor de semicondutores é cíclico. Expansões rápidas podem gerar excesso de oferta futuro e pressionar preços. Tensões geopolíticas, especialmente envolvendo Taiwan e China, ameaçam cadeias críticas de suprimento. A evolução tecnológica pode tornar uma arquitetura obsoleta se novos aceleradores ou paradigmas surgirem. E, claro, condições macroeconômicas adversas podem levar grandes clientes a adiar capex.
Como pensar em exposição a partir do Brasil? Investidores podem buscar ações listadas no exterior via corretoras que ofereçam acesso a ADRs ou BDRs, e considerar ETFs temáticos que repliquem o universo de semicondutores e infraestrutura de data centres. Lembre-se: a CVM regula ofertas locais; consulte sua corretora ou assessor antes de decidir. Isto não é recomendação personalizada — é panorama estratégico.
A questão que surge é: prefiro a vantagem da previsibilidade ou me exponho a apostas de alto risco em software? Para muitos investidores com perfil moderado, uma parcela da carteira dedicada a fornecedores de infraestrutura de IA traz combinação atraente de crescimento e visibilidade de receita.
Em suma, a onda de capex das big techs abre uma janela prática de investimento. Não são promessas de retorno rápido e garantido. São fluxos de receita calibráveis, com riscos claros e mensuráveis. Para quem busca participar da revolução da IA sem abraçar apenas o lado especulativo da tecnologia, olhar para quem fabrica as ferramentas pode ser a opção mais racional.
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Aviso: investimentos envolvem riscos; desempenho passado não garante retornos futuros. Não constitui aconselhamento financeiro personalizado.