Por que olhar além de Boeing e Airbus
A rivalidade pública entre Boeing e Airbus rende manchetes e alimenta narrativas sobre quem vence a corrida de entregas. Mas a oportunidade de investimento mais consistente está mais abaixo na cadeia: nas empresas que fabricam motores, aviônicos, estruturas e sistemas interiores. Essas fornecedoras atendem simultaneamente às duas gigantes e, por isso, oferecem ao investidor uma diversificação natural e fluxo de receita mais previsível.
Vamos aos fatos. Boeing e Airbus acumulam um backlog combinado superior a 11.000 aeronaves (cerca de 4.200 para a Boeing e 7.000 para a Airbus). Isso não é apenas um número: significa visibilidade de produção para vários anos, pressão para aumentar a cadência de montagem e demanda garantida por milhões de peças. Um avião comercial moderno incorpora, em média, 2,3 milhões de componentes, e as estimativas apontam para a necessidade de pelo menos 22.000 motores novos para cumprir renovação e expansão de frota.
Isso tem implicações práticas para investidores. Fornecedores críticos, como fabricantes de motores e de sistemas essenciais, desfrutam de forte efeito de rede. Uma vez certificados e integrados em famílias de aeronaves, seus equipamentos criam custos de troca elevados para as montadoras. Essa barreira de entrada confere poder de precificação e margens mais resilientes, especialmente nos contratos de aftermarket, que podem gerar receita por 20 a 30 anos após a entrega de uma aeronave.