A corrida pela aquisição de mídia esquenta em 2025
O aumento da taxa de rescisão para £5 bilhões no lance da Paramount Skydance por Warner Bros. Discovery deixou claro: a disputa por escala no streaming não é mais uma guerra de discurso, é uma corrida de cifras. A corrida pela aquisição de mídia esquenta em 2025 mostra que bibliotecas de conteúdo e controle de distribuição tornaram-se ativos estratégicos — e rentáveis — para quem busca receita recorrente via assinaturas e publicidade.
Vamos aos fatos. A elevação da chamada taxa de rescisão para £5 bilhões (equivalente a cerca de R$34 bilhões, em estimativa a preços correntes) funciona como selo de compromisso. Isso sinaliza aos competidores e aos conselheiros em M&A que a oferta é séria. Significa também que os alvos com catálogos exclusivos — aquele filme sucinto que retém assinantes ou a série que garante audiência publicitária — passaram a comandar avaliações premium.
Por que bibliotecas valem tanto? Porque entregam previsibilidade de caixa. Um catálogo amplo alimenta retenção de clientes e receitas recorrentes, reduzindo a volatilidade operacional. Na visão estratégica dos compradores, isso compensa preços elevados e justifica integração tecnológica: plataformas de streaming, analytics e personalização ampliam o valor desses ativos e erectam barreiras de entrada.
E qual é a oportunidade para o investidor? Ela aparece em duas frentes. Primeiro, mirar empresas mais expostas aos movimentos de aquisição: estúdios com catálogos relevantes, produtores regionais e emissoras locais que podem ser agregadas a custo relativamente menor. Segundo, considerar instituições que lucram com o ciclo de M&A — bancos de investimento capturam taxas elevadas ao assessorar mega-fusões e, assim, oferecem exposição indireta ao tema.
A lógica de mercado já identifica quem são os protagonistas. Warner Bros. Discovery (WBD) figura como o alvo central, enquanto grupos como Twenty-First Century Fox (FOXA) e compradores agregadores têm capacidade de combinar estúdios, conteúdo e distribuição. Nos EUA, players como o Nexstar Media Group (NXST), dono de numerosas estações locais, ilustram o valor do conteúdo regional — fidelidade de audiência que interessa a conglomerados em busca de escala.
A consolidação, porém, tem etapas. Depois das grandes ofertas, o próximo passo costuma ser a aquisição de produtores menores e emissoras locais. Esse segmento é mais acessível e permite múltiplas transações que cumulativamente ampliam catálogos e alcance regional. No Brasil e na América Latina já vimos movimentos similares, como a transformação de ativos televisivos em plataformas com foco em streaming e distribuição multiplataforma.
Investidores de varejo não ficam de fora. Crescem produtos temáticos que permitem participação fracionada com aportes a partir de £1 — cerca de R$7. Isso torna possível ganhar exposição ao tema sem comprar uma ação inteira de um grande conglomerado. Mas atenção: frações baratas não anulam riscos.
Riscos existem e são relevantes. Fiscalização regulatória pode bloquear negócios; concorrentes tecnológicos com balanços robustos continuam a disputar assinantes; ciclos econômicos afetam publicidade; e avaliações podem se retrair se ofertas não se concretizarem. Há também risco cambial para brasileiros expostos a ativos cotados em libras ou dólares.
A questão que surge é: como navegar esse cenário? Perspectivas de curto prazo favorecem empresas cujos catálogos são monetizáveis imediatamente. No médio prazo, a consolidação tende a prosseguir via aquisições regionais e integração tecnológica. Para investidores, balancear exposição direta a alvos de aquisição com posições em bancos que assessoram essas operações, e considerar veículos temáticos fracionados, é uma forma de participar dessa dinâmica — sempre lembrando que não se trata de recomendação personalizada e que todo investimento envolve risco.
Nota breve sobre regimes regulatórios: ADGM refere-se ao Abu Dhabi Global Market, zona franca com regime próprio de mercado dos Emirados Árabes Unidos; no Brasil, o exame concorrencial e condicionamentos passam pelo CADE. Ambos podem influenciar estrutura e tempo de fechamento de grandes operações de mídia.