A crise bilionária de compliance que empurra bancos a investir em RegTech
Multas e processos bilionários transformaram o compliance bancário de custo obrigatório em prioridade estratégica. Vamos aos fatos: grandes instituições já arcaram com mais de US$ 10 bilhões em penalidades relacionadas à prevenção à lavagem de dinheiro (AML, na sigla em inglês) e casos como o processo de US$ 2,7 bilhões envolvendo o Standard Chartered escancararam a magnitude das exposições. Essas cifras funcionam como um severo incentivo para modernizar sistemas — e criam uma janela de oportunidade para empresas de tecnologia regulatória, as RegTech.
Isso significa que a decisão de gastar não é apenas defensiva. É também econômica. Sistemas legados, baseados em revisão humana e regras estáticas, não suportam o volume e a velocidade das transações digitais. A supervisão humana sozinha falha diante de milhões de pagamentos por dia; soluções automatizadas e em tempo real, capazes de identificar padrões atípicos com machine learning, tornaram-se essenciais.
Quem oferece essas soluções? Provedores como ACI Worldwide (ACIW) entregam motores de detecção de fraude e monitoramento de pagamentos em tempo real. Mitek Systems (MITK) se especializa em captura de documentos e verificação de identidade para processos robustos de KYC (Conheça seu cliente). Equifax (EFX) atua na gestão de identidade e verificação de consumidores. Essas ferramentas não só reduzem riscos regulatórios, como também preservam reputação — um ativo intangível de alto valor para bancos, fintechs e corretoras.
A demanda por RegTech transcende o sistema bancário tradicional. Fintechs, exchanges de criptomoedas e provedores de pagamento digital que operam no Brasil e no exterior enfrentam a mesma pressão regulatória. No Brasil, o Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) intensificaram a fiscalização; a Lei nº 9.613/1998 e normas posteriores sobre AML estabelecem obrigações que tendem a se aprofundar com padrões internacionais mais rígidos.
Quais são os motores desse ciclo de investimento? Primeiro, multas e repercussões reputacionais geram alocações plurianuais para modernização. Segundo, o compliance bem feito agiliza onboarding e reduz churn, convertendo conformidade em vantagem competitiva. Terceiro, algoritmos de machine learning melhoram com volume de dados, criando efeitos de rede: quanto mais clientes e transações analisadas, mais eficazes se tornam as soluções. Finalmente, a incorporação de tecnologia nos processos centrais cria contratos longos e receitas recorrentes, aumentando previsibilidade para fornecedores.
Existem riscos relevantes. Inovação acelerada por atores maliciosos exige atualizações contínuas; mudanças regulatórias podem tornar partes de uma solução obsoletas; competição de grandes empresas de tecnologia e startups bem capitalizadas pode pressionar margens. Além disso, a integração com sistemas legados é complexa e nem sempre aceita pelas equipes internas, enquanto falsos positivos em sistemas automatizados podem prejudicar a experiência do cliente.
A conclusão prática para investidores? A tese de investimento em RegTech apoia-se em motores estruturais: regulação mais rígida, digitalização das transações e necessidade de soluções em tempo real. Empresas com produtos comprovados em detecção de fraude, verificação de identidade e monitoramento de pagamentos têm probabilidade maior de capturar o aumento de demanda. Exemplos listados — ACIW, MITK e EFX — representam diferentes pontos de exposição dentro do ecossistema.
Isso é recomendação personalizada? Não. Trata-se de análise setorial com implicações para carteiras de médio a longo prazo. Risco existe e returns não são garantidos. Investidores devem conduzir due diligence, considerar diversificação e avaliar impactos regulatórios locais antes de alocar capital.
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Observação final: em um ambiente onde processos e penalidades se escalam, a tecnologia de compliance deixou de ser luxo para se tornar infraestrutura essencial. A questão que surge é: quem entregará essa infraestrutura de forma confiável e escalável?