A consolidação do delivery de comida na Europa: a jogada da Prosus que está redesenhando o setor
A aquisição da Just Eat Takeaway pela Prosus não é apenas mais uma transação no mercado de tecnologia. É um ponto de inflexão. A operação cria a maior plataforma de delivery da Europa e acelera uma onda de consolidações que muda completamente as prioridades do setor: sair do tudo por crescimento e entrar na era da eficiência operacional e da busca por lucro sustentável.
Vamos aos fatos. Por anos, as plataformas brigaram por participação de mercado com subsídios generosos a restaurantes e entregadores. Esse modelo mostrou limites. Agora, com escala maior, pressões por margem e vigilância regulatória mais intensa, o jogo vira. Isso significa que operadores com execução eficiente e custos controlados tendem a se destacar. A pergunta é: onde está a oportunidade para o investidor?
A resposta é clara: nos “picks and shovels” do ecossistema. Fornecedores de tecnologia de logística, roteamento por IA, processamento de pagamentos e sistemas operacionais para restaurantes e entregadores devem ver demanda crescente. Pense em empresas que vendem software SaaS para otimização de rotas, plataformas de gestão de frotas e provedores de pagamentos seguros. Essas soluções ajudam as grandes plataformas a reduzir custos, cumprir regras de compliance e acelerar a integração pós-fusão.
Além disso, a supervisão regulatória europeia, embora crie incerteza, estimula terceirização. Em vez de internalizar todas as capacidades, grandes grupos podem preferir contratar especialistas para reduzir riscos legais e acelerar conformidade. Isso abre janelas para players especializados, semelhantes ao que observamos no Brasil com empresas como Loggi fornecendo logística a marketplaces, ou provedores de software que integram restaurantes ao iFood.
Quem ganha com a consolidação? Corretoras e investidores atentos podem olhar para empresas com modelos B2B, receitas recorrentes e tecnologia comprovada. Exemplos globais ilustram o raciocínio: DoorDash e Uber demonstram como roteamento escalável e integração logística agregam valor. Domino’s mostra como padronização operacional melhora margens. No contexto europeu, fornecedores menores e ágeis com soluções de nicho podem crescer rapidamente ao atender gigantes consolidados.
Como acessar essas oportunidades vindo do Brasil? Há caminhos. Investidores podem comprar ações diretamente em bolsas estrangeiras por meio de corretoras com acesso internacional, investir em BDRs listadas no Brasil ou escolher ETFs que repliquem setores de tecnologia e logística. Atenção aos custos: taxas de corretagem, spread cambial, eventuais custódia e impostos. No Brasil, ganhos com ações no exterior são tributados como ganho de capital e devem ser declarados; verifique alíquotas e regras vigentes antes de operar.
Riscos não faltam. A aprovação regulatória da fusão ainda é condição necessária e pode vir com imposições. Integrações podem elevar custos temporariamente. Concorrência local e pressões macroeconômicas também podem afetar resultados. Por isso, diversificação e foco em empresas com fluxo de caixa previsível podem oferecer perfil mais defensivo.
Para o investidor que prefere evitar apostas diretas em marcas de delivery, a alternativa é clara: procure exposição às empresas que tornam a entrega mais barata e mais eficiente. Essas são menos vulneráveis a perdas de participação de mercado e podem oferecer retorno mais estável se a consolidação se confirmar.
Nota de risco: este texto é de caráter informativo e não constitui recomendação personalizada de investimento. A conclusão da aquisição depende de aprovação regulatória e há riscos de execução e mercado.
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