O jogo de poder por procuração: por que consultorias de proxy advisory viram oportunidade de investimento
As votações corporativas deixaram de ser mera formalidade. Tornaram-se campos de batalha onde decisões sobre remuneração executiva, composição do conselho e propostas de acionistas são definidas com impacto direto no valor das empresas. Vamos aos fatos: firmas de proxy advisory — consultorias que orientam votos por procuração — ganharam influência decisiva nesse cenário. Isso significa uma oportunidade estrutural de investimento em empresas que prestam esses serviços.
O que fazem, afinal, as consultorias proxy advisory? Em termos simples, elas analisam propostas submetidas a assembleias e recomendam aos clientes institucionais como votar. No Brasil, os principais clientes são fundos de pensão, gestores de recursos e fundos internacionais que detêm grande fatia do capital votante. Esses relatórios incidem sobre temas sensíveis: planos de remuneração, eleição de conselheiros, operações com partes relacionadas e questões ESG. A influência é evidente quando recomendações coincidirem com resultados de votações relevantes.
Por que isso se traduz em tese de investimento? Primeiro, o modelo de negócio. Muitas firmas trabalham com assinaturas que garantem receita recorrente e visibilidade sobre o pipeline de clientes. Assinaturas reduzem churn e criam barreiras de entrada: não basta produzir análise pontual, é preciso manter bases de dados, atualizações regulatórias e relacionamentos institucionais. Pense nisso como um software B2B combinado com consultoria especializada.
Segundo, o contexto macro. A participação institucional nas ações brasileiras cresceu nas últimas décadas. Com ela vem maior ativismo acionário e demanda por opinião técnica sobre votações complexas. Ao mesmo tempo, mudanças regulatórias da CVM e exigências de divulgação, incluindo métricas ESG, ampliam o escopo e a complexidade das análises necessárias. Mais regras, mais trabalho técnico, mais dependência de fornecedores especializados.
Terceiro, tecnologia e expertise regulatória. Empresas que investem em bases de dados proprietárias, machine learning e ferramentas analíticas criam vantagens competitivas sustentáveis. Algoritmos que identificam padrões de votação, modelos preditivos de risco de governança e plataformas que integram dados globais valem mais do que relatórios avulsos. A tecnologia funciona como muro defensivo contra novos entrantes.
Quem lidera esse mercado globalmente? Nomes como FTI Consulting (FTI), ICF International (ICFI) e HURON Consulting (HURN) já consolidados oferecem combinação de alcance internacional, serviços de comunicação com investidores e expertise em disputas e reestruturação de conselhos. No Brasil, players locais e internacionais procuram replicar essas ofertas adaptadas às normas da CVM e às práticas dos fundos de pensão.
E os riscos? Por mais atraente que seja a narrativa, existem fragilidades. A concentração de influência em poucas firmas pode gerar conflitos de interesse e groupthink nas recomendações. O escrutínio regulatório pode aumentar custos operacionais ou impor limites comerciais. Além disso, grandes investidores podem internalizar capacidade analítica, reduzindo a demanda por consultoria externa. Recessões afetam volumes de operações corporativas e, consequentemente, receitas.
A questão que surge é: vale agregar essas empresas a uma carteira temática? Para investidores qualificados, a exposição a firmas com receitas recorrentes, alta fidelização e investimento em tecnologia pode fazer sentido como parte de uma estratégia de longo prazo sobre governança. Contudo, não há garantias. Todo investimento envolve risco e o desempenho futuro dependerá de fatores regulatórios, reputacionais e macroeconômicos.
Se preferir aprofundar leitura, confira também o meu texto O jogo de poder por procuração: a governança corporativa ganha destaque. Este artigo foi elaborado para informar e não constitui recomendação personalizada. Avalie risco, diversifique e consulte um assessor antes de tomar decisões.