A infraestrutura por trás dos gigantes da IA
A valorização combinada que levou Nvidia e Microsoft a encarar uma marca próxima a US$4 trilhões chama atenção. Mas a pergunta que pouco se ouve é: quem realmente lucra quando as plataformas de IA explodem em escala? Vamos aos fatos. Os ganhos não ficam restritos aos nomes visíveis. A cadeia de fornecedores — fabricantes de semicondutores, máquinas de litografia, memórias de alta velocidade e operadores de data centers — capta uma parcela significativa desse fluxo de capital.
Isso significa que, para o investidor, olhar apenas para os grandes vencedores de demanda pode ser curto. A cadeia de suprimentos da IA oferece múltiplos pontos de entrada para exposição a esse megaciclo. Empresas como Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) e ASML mantêm vantagens competitivas estruturais: TSMC produz nós avançados que viabilizam chips para aceleradores; ASML vende máquinas de litografia EUV que custam centenas de milhões e têm backlog robusto. Já fornecedores de memória, como a Micron, lucram com a necessidade crescente de HBM — memória de alta largura de banda essencial para modelos de grande porte.
A vantagem desses 'picks and shovels' é clara. Suas receitas tendem a ser mais previsíveis e menos sujeitas à volatilidade especulativa que afeta empresas de plataforma. Fábricas, contratos de fornecimento e ordens de máquinas criam ciclos de receita multianuais, o que pode suavizar picos e vales. Em outras palavras: investir na infraestrutura pode oferecer crescimento durável e avaliações potencialmente mais razoáveis do que apostar apenas em vencedores de frente.
Quais são os vetores de crescimento? Primeiro, a demanda contínua por chips e por empacotamento avançado, já que treinar e rodar modelos de IA exige cada vez mais capacidade de processamento. Segundo, a necessidade de HBM, sistemas de resfriamento eficientes, gestão de energia e redes de alta velocidade nos data centers. Terceiro, os enormes investimentos de capital para construir ou atualizar fabs e centros de dados — despesas que se traduzem em receitas recorrentes para fornecedores especializados.
A questão que surge é: quais riscos estão embutidos nessa tese? Há, antes de tudo, o risco de sobreavaliação. Parte do setor já passou por reprecificação intensa por causa do entusiasmo com IA. Além disso, tensões geopolíticas podem interromper fornecimentos críticos — pense em restrições de exportação, sanções e concentração geográfica da manufatura avançada. Não podemos ignorar também a natureza cíclica do setor de semicondutores; booms viram busts quando investimentos e demanda se desalinham.
Como avaliar oportunidades práticas? Diversificação. Em vez de concentrar capital em um ou dois nomes-cabeça, considere alocar em fabricantes de chips como TSMC, em fornecedores de litografia como ASML, em produtores de memória premium como Micron e em operadores de data centers. Para investidores brasileiros, atenção especial à exposição cambial e ao risco regulatório: barreiras de exportação ou medidas de controle de tecnologia podem afetar o retorno.
E o custo energético? Treinamentos de modelos exigem consumo massivo de eletricidade. Isso cria espaço para fornecedores de soluções de eficiência energética e para investimentos em fontes confiáveis, inclusive com potencial para contratos de longo prazo no Brasil. Em suma, a infraestrutura é a engrenagem pouco glamourosa, mas essencial.
Investir na cadeia de suprimentos da IA não garante retornos. Há riscos relevantes e é prudente tratar qualquer exposição como parte de uma carteira diversificada. Ainda assim, para quem busca exposição ao avanço da IA com menor volatilidade e avaliações mais contidas, os fornecedores de infraestrutura merecem atenção.
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Aviso: este texto é informativo e não constitui recomendação personalizada de investimento. Considere consultar um assessor ou gestor antes de tomar decisões.