Nacionalismo de recursos: a vantagem estratégica do controle doméstico
A reconfiguração das cadeias de suprimento é ao mesmo tempo um risco e uma oportunidade para investidores. Vamos aos fatos: a dependência de insumos críticos vindos do exterior provou ser vulnerável a choques geopolíticos e logísticos. Isso significa que empresas que controlam recursos essenciais e finitos — como lítio, terras raras e direitos de água — em jurisdições politicamente estáveis passam a ter papel estratégico maior no portfólio de longo prazo.
Por que isso importa agora? A transição energética e a eletrificação do transporte exigem volumes crescentes de materiais críticos. Lítio e terras raras são insumos centrais para baterias e componentes de turbinas eólicas. O cobre segue igualmente em alta demanda para infraestrutura elétrica. Em paralelo, o crescimento demográfico e a pressão hídrica em várias regiões tornaram os direitos de água ativos com potencial de valorização real. A combinação desses fatores cristaliza uma tese de investimento baseada em segurança de fornecimento e resiliência da cadeia doméstica.
A questão que surge é: onde buscar exposição? Há empresas que já ocupam posições privilegiadas. MP Materials opera a única instalação integrada de mineração e processamento de terras raras na América do Norte, transformando um ativo geológico em vantagem estratégica para investidores interessados em reduzir a dependência do processamento concentrado na China. Albemarle e Lithium Americas representam exposição ao lítio em jurisdições como Chile, Austrália e Nevada, respectivamente, locais considerados relativamente estáveis para operações de grande escala.
Isso significa que essas ações são sem risco? De maneira nenhuma. Os riscos são concretos e relevantes. A volatilidade de preços das commodities pode diluir ganhos. Riscos operacionais em mineração e processamento — desde falhas técnicas até atrasos em projetos — afetam cronogramas e custos. Mudanças regulatórias ambientais e fiscais podem elevar despesas e postergar investimentos. Mesmo em países estáveis há risco político; políticas públicas podem mudar com frequência, alterando incentivos e obrigações.
Além disso, existe um risco de concentração: depender excessivamente de poucos depósitos ou de fornecedores regionais cria vulnerabilidade. E não se pode ignorar a hipótese de inovações tecnológicas que reduzam a intensidade de uso de determinados materiais.
Quais são, então, os catalisadores de valorização? Políticas públicas que incentivem produção doméstica tendem a aumentar a atratividade desses ativos. Incentivos fiscais e subsídios para cadeia local, junto com compras governamentais estratégicas, podem sustentar demanda. A própria dinâmica da transição energética, que exige baterias e componentes magnéticos, e as pressões hídricas demográficas ampliam o valor dos direitos de água e da infraestrutura associada.
Como pensar em alocação prática? Considere diversificar a exposição entre diferentes recursos (lítio, terras raras, cobre e direitos de água) e entre jurisdições. Avalie empresas que não só possuem reservas, mas também indústria de processamento, reduzindo gargalos da cadeia. Pesquise a cadeia de valor: a concentração do refino de terras raras na China, por exemplo, é um fator que aumenta a vantagem estratégica de produtores com capacidade de processamento doméstico.
Um último ponto: os impactos socioambientais. Projetos minerais e de gestão hídrica têm efeitos locais relevantes; licenciamento, consultas a comunidades e normas ambientais podem alterar viabilidade e cronograma. Investidores brasileiros devem atentar para as especificidades regulatórias locais e para a necessidade de diálogo com stakeholders.
Nacionalismo de recursos não é sinônimo de retorno garantido. É, antes, uma tese estrutural que oferece proteção relativa contra rupturas das cadeias globais e que, bem selecionada, pode complementar estratégias de defesa do portfólio. Para saber mais sobre composições e empresas ligadas a essa tese, veja o Nacionalismo de recursos: a vantagem estratégica do controle doméstico.
Aviso: este texto tem finalidade informativa e não constitui recomendação personalizada. Riscos existem e devem ser avaliados conforme perfil e horizonte de cada investidor.