A virada econômica do México: por que o dinheiro inteligente está rumando para o sul
O México vive uma retomada gradual e com sinais de sustentabilidade. Não é um boom instantâneo. É um ajuste estrutural: déficit em conta corrente menor, atração de indústrias por efeito nearshoring, um peso mexicano mais firme e maior confiança do consumidor. Isso significa que surgem janelas de oportunidade para investidores dispostos a olhar além da fronteira. Para leitura completa, veja também A virada econômica do México: por que o dinheiro inteligente está rumando para o sul.
Vamos aos fatos que interessam ao investidor. O déficit em conta corrente recuou para algo na faixa dos US$ 12,6 bilhões, um sinal de estabilidade macroeconômica que reduz a vulnerabilidade externa. Ao mesmo tempo, empresas que buscam reduzir prazos e custos logísticos têm deslocado parte da produção que antes ficava na Ásia para o México. Esse movimento de nearshoring exige parques industriais, estradas, portos e fornecimento de energia — e gera demanda por cimento, concreto e serviços de construção.
A pergunta natural: quem se beneficia na prática? Há três frentes claras. Primeiro, a infraestrutura e materiais de construção. Empresas como a CEMEX (CX) devem capturar parte do ciclo de investimentos em fábricas e em logística. Segundo, o consumo interno, impulsionado por maior confiança do consumidor, favorece varejistas e grupos de distribuição. A Fomento Económico Mexicano (FEMSA, ticker FMX), dona de redes como OXXO e com exposição ao segmento de bebidas, está bem posicionada para isso. Terceiro, para quem prefere diversificação pronta, o ETF Mexico MSCI Capped iShares (EWW) oferece exposição ampla à economia mexicana, reduzindo risco idiossincrático de apostar em uma só ação.
E o câmbio? Um peso mais forte pode acrescentar um ganho cambial relevante para investidores que compram ativos em MXN. Isso é particularmente relevante para investidores brasileiros, que vão converter BRL para USD ou diretamente para MXN. Isso significa que a performance total em reais incorpora tanto o retorno local das empresas quanto a variação do BRL/MXN. Se o peso se valorizar frente ao real, o retorno em reais tende a ampliar-se; se reverter, o efeito será oposto. Portanto, o câmbio é um componente tão importante quanto o desempenho operacional das empresas.
Riscos não faltam. Mudanças nos ciclos globais podem reduzir demanda por exportações mexicanas. Riscos políticos e regulatórios no México podem afetar projetos e confiança. Volatilidade cambial pode reverter ganhos. Há ainda riscos operacionais — atrasos em obras, alta de custos de insumos e concorrência. Em suma: não há garantia de retorno e existe possibilidade de perda de capital.
Que estratégia adotar? Para investidores com horizonte de médio a longo prazo, uma cesta diversificada ou um ETF costuma ser mais sensata do que concentrar posição em uma única empresa. Isso mitiga risco político, cambial e idiossincrático. Uma alocação tática pode combinar EWW para exposição ampla, com posições seletivas em FMX e CX para captar themes de consumo e infraestrutura.
Aspectos fiscais e práticos para investidores brasileiros. Investe-se no exterior com obrigações: remessas são sujeitas a IOF conforme a modalidade, ganhos de capital devem ser informados no IRPF e eventuais impostos retidos no exterior podem ter regras de compensação. Não é consultoria fiscal; consulte um assessor tributário para situação pessoal.
Conclusão: o México oferece uma narrativa crível de recuperação sustentada e setores concretos para explorar — infraestrutura, indústria e consumo. A prudência recomenda diversificação, atenção ao câmbio e horizonte de investimento mais longo. Pergunta final: vale a pena assumir o risco? Para quem aceita volatilidade e entende exposição cambial e política, a resposta pode ser afirmativa. Para os demais, a cautela continua sendo a melhor política.