Quando os mercados se tornam hostis: a defesa do investimento defensivo
Em tempos de volatilidade elevada, a tentação é procurar segurança. Investidores conservadores e moderados recorrem com frequência às chamadas ações defensivas — empresas que oferecem bens e serviços essenciais cuja demanda é pouco sensível ao ciclo econômico. Mas o que exatamente justificaria essa preferência e quais são os limites dessa estratégia?
Vamos aos fatos. A principal razão pela qual ações defensivas performam melhor em crises relativas é simples: elas vendem produtos e serviços com demanda inelástica. Isso quer dizer que, mesmo quando o consumo desacelera, famílias continuam comprando itens de higiene, medicamentos, eletricidade e serviços básicos de limpeza. Empresas com esse perfil tendem a apresentar receitas recorrentes e previsíveis, o que facilita o planejamento e a distribuição de dividendos.
Isso significa que investidores recebem caixa mesmo em anos sem valorização do preço das ações. Em muitos casos, pagamentos regulares de dividendos transformam um mercado lateral em retorno real: enquanto o valor de mercado oscila, o investidor recebe fluxo de caixa que pode ser reinvestido ou gasto. No Brasil, vale lembrar que dividendos são, atualmente, isentos de imposto de renda na pessoa física; já juros sobre capital próprio, quando usados por empresas, sofriam tributação na fonte. A legislação pode mudar, portanto mantenha esse aspecto sob vigilância.
Outro pilar da defesa defensiva é o chamado moat, ou fosso competitivo. Em português, pense em barreiras de entrada: infraestrutura, regulação e escala que tornam difícil para concorrentes novos roubar participação de mercado. Setores como saneamento, utilidades e gestão de resíduos combinam contratos de longo prazo com altos custos de instalação. Em ambientes inflacionários, empresas que detêm poder de precificação conseguem repassar custos e preservar margens — um atributo valioso quando a Selic sobe e o cenário macro aperta.
Mas a questão que surge é: isso torna as ações defensivas à prova de crises? Não. Proteção relativa não é proteção absoluta. Choques globais severos, pânico financeiro ou quedas abruptas de liquidez podem derrubar praticamente qualquer papel. Além disso, aumento de taxas de juros pressiona avaliações, e riscos específicos — litígios, mudanças regulatórias no setor de saúde ou concentrações geográficas — podem comprometer resultados.
Para o investidor brasileiro, há também nuances práticas. Empresas como Natura &Co ou Unilever Brasil ilustram o consumo de higiene e cuidados pessoais; redes farmacêuticas e distribuidores, como raia drogasil, mostram a resiliência do varejo farmacêutico; e companhias de saneamento ou concessões municipais evidenciam a previsibilidade de receitas por contrato. No plano internacional, nomes como Procter & Gamble, Johnson & Johnson e Waste Management ilustram a lógica do modelo — mas a adaptação ao mercado local e à tributação é essencial.
Estrategicamente, como usar ações defensivas? Primeiro, como complemento, não como porto exclusivo. Elas podem reduzir a volatilidade do portfólio e oferecer fluxo de dividendos, ajudando na preservação de capital. Segundo, avalie qualidade: margem sustentável, histórico de dividendos e força regulatória. Terceiro, diversifique dentro do tema para mitigar riscos setoriais ou geográficos.
Em suma, investir em ações defensivas é uma defesa sensata quando a maré vira — menos para garantir ganhos extraordinários e mais para preservar capital e gerar renda. Pergunte-se: você busca proteção relativa e rendimentos em caixa enquanto o mercado se ajusta? Se a resposta for sim, a estratégia defensiva merece lugar na sua alocação.
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Aviso: este texto tem caráter informativo. Não configura recomendação personalizada. Investimentos envolvem riscos e podem resultar em perda de capital.