a economia da experiência ao vivo: por que as ações de shows estão atingindo o tom mais alto
Estamos em meio a uma mudança estrutural no consumo. Em vez de colecionar bens, muitos consumidores hoje preferem experiências memoráveis. Festivais como Rock in Rio, produtoras brasileiras de grande porte e arenas como o Allianz Parque ou a Jeunesse Arena viram essa disposição a pagar se traduzir em ingressos esgotados e pacotes VIP que chegam a centenas ou milhares de reais. Isso significa que empresas que controlam a cadeia de valor de shows capturam uma fatia maior dessa nova economia.
Vamos aos fatos. Empresas integradas — que promovem shows, operam a plataforma de ingressos e até possuem os locais — beneficiam-se de múltiplos pontos de monetização. É o caso global da Live Nation (LYV): promoção, Ticketmaster e posse de espaços permitem cobrar por ingressos e também por merchandising, concessões, upgrades VIP e patrocínios. No Brasil, atores como produtoras locais e operadores de arenas exercem papel similar, aproveitando demanda por experiências ao vivo.
Por que isso importa para o investidor? Porque receitas diversificadas elevam margens e tornam o modelo mais resiliente. Ingressos são a porta de entrada, mas a receita média por fã (ARPU) cresce com food & beverage, lojas oficiais, zonas VIP e parcerias de marca. Um show bem-sucedido pode render muito além do preço do ingresso: pense em merchandising esgotando ao fim do evento e em patrocínios que pagam para associar marcas a momentos culturais.
A tecnologia amplifica esse efeito. Bilheteria digital, análise de dados de fãs e marketing em redes sociais ajudam artistas a construir audiências globais. Um clipe viral ou post certeiro transforma a demanda local em tours maiores. Plataformas como Eventbrite (EB) capturam o mercado grassroots, facilitando que organizadores independentes descubram público e monetizem eventos menores com custos eficientes.
A expansão geográfica também conta. Mercados emergentes na América Latina oferecem crescimento, à medida que infraestrutura de locais e capacidade de promoção se desenvolvem. A demografia favorece o setor: jovens urbanos, mobile-first, valorizam experiências sociais e status associado à presença em shows. Isso aumenta a frequência de consumo e a disposição a pagar por upgrades.
Mas a música não toca sem risco. Recessões cortam gasto discricionário; em períodos de aperto, ingressos podem ser adiados ou abandonados. A concorrência por atenção é intensa: streaming, jogos e redes sociais disputam o mesmo tempo e orçamento do público. Há ainda riscos operacionais reais em eventos em grande escala — clima, segurança, logística e cancelamentos — que podem gerar custos inesperados e danos reputacionais.
No Brasil, somam-se preocupações regulatórias e práticas de cambismo. A transparência nas taxas de venda e o combate ao revenda ilegal continuam no radar de autoridades e consumidores. Isso pesa sobre plataformas de bilheteria e promotores, que precisam investir em tecnologia antifraude e em políticas de preço claras.
Que conclusão o investidor deve tirar? O setor de entretenimento ao vivo oferece um tema de crescimento com fundamentos razoáveis: mudança de preferência do consumidor, receitas diversificadas e alavancas tecnológicas. Ainda assim, exibe volatilidade e riscos idiossincráticos que exigem avaliação cuidadosa do portfólio. Empresas integradas com escala internacional, como a Live Nation, e operadores de locais premium, como a MSGE, mostram vantagem competitiva; plataformas digitais, como a Eventbrite, exploram nichos de mercado.
Investir nesse universo pede moderação. Não é recomendação personalizada. Avalie a diversificação, a exposição cambial e a sensibilidade da receita ao ciclo econômico. E lembre-se: em música e em mercados, o espetáculo pode ser grandioso — mas também sujeito a variações de tom.
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