O motor de crescimento do Google: os vencedores ocultos por trás das ambições de IA da Alphabet
A corrida pela inteligência artificial costuma concentrar os holofotes nas grandes plataformas. Mas a maior oportunidade de investimento pode estar fora do palco: nas fornecedoras de hardware que tornam a expansão da IA possível. O motor de crescimento do Google: os vencedores ocultos por trás das ambições de IA da Alphabet
Vamos aos fatos. A Alphabet está despejando bilhões em infraestrutura física — data centers, servidores, redes e armazenamento — para sustentar seus modelos de IA. Isso significa fluxo de caixa direto para fabricantes de chips, provedores de servidores e fornecedores de componentes de rede e memória. A questão que surge é: investir no “campeão” da IA ou comprar as pás e picaretas que todos usarão?
A lógica "picks and shovels" favorece o segundo caminho. Em vez de depender da vitória de uma única plataforma, a estratégia foca em empresas que fornecem o hardware crítico: GPUs e CPUs (processamento), foundries (fábricas de semicondutores), servidores de alta densidade, storage e equipamentos de rede. Termos rápidos: GPU é a unidade de processamento gráfico, hoje essencial para treinar e rodar modelos; foundry é a empresa que fabrica fisicamente os chips; e litografia refere-se às máquinas usadas para gravar os circuitos nos wafers de silício.
Empresas óbvias aparecem na lista: NVIDIA (NVDA), líder em GPUs para data centers; AMD (AMD), alternativa relevante em CPUs e GPUs; e TSMC (TSM), a maior foundry do mundo. Mas a cadeia ganha dimensão lá atrás: Supermicro (SMCI) projeta e monta servidores de alta densidade; Arista (ANET) fornece switches de baixa latência que interligam centenas de racks; Micron (MU) produz DRAM e SSDs; e ASML (ASML) fabrica as máquinas de litografia indispensáveis para chips avançados.
Por que isso importa para o investidor brasileiro? Primeiro, o tema é multianual. Não se trata de um pico de demanda passageiro: Microsoft, Amazon e Meta seguem trajetórias semelhantes, ampliando capacidade global. Segundo, gasto de capital em infraestrutura tende a se traduzir em receitas recorrentes para fornecedores, porque modelos maiores exigem mais processamento, memória e armazenamento.
Mas os riscos são reais. Ciclos de estoque e volatilidade tecnológica podem provocar quedas abruptas nas receitas; tensões geopolíticas e restrições comerciais podem interromper cadeias de suprimento; e a obsolescência é ameaça constante em um setor que avança rapidamente. Além disso, investidores brasileiros enfrentam risco cambial e obrigações fiscais ao acessar ativos no exterior.
Como participar? Há caminhos práticos: BDRs de empresas listadas nos EUA, ETFs e fundos temáticos que replicam semicondutores e infraestrutura, ou compra direta de ações por meio de corretoras internacionais. Cada alternativa tem custo, tratamento fiscal e exposição ao dólar. Importante: declare operações e esteja atento ao imposto sobre ganho de capital e às regras do Banco Central para remessas. Não é aconselhamento personalizado; consulte seu contador ou assessor antes de operar.
Estratégia prática: diversificar entre diferentes níveis da cadeia reduz o risco específico de uma única empresa. Uma cesta que combine fabricantes de GPUs (NVIDIA, AMD), foundries (TSMC), fornecedores de servidores e rede (Supermicro, Arista), memória (Micron) e equipamentos de produção (ASML) oferece exposição mais resiliente ao crescimento estrutural da computação de alto desempenho.
Em última análise, a pergunta para o investidor é simples: prefere apostar em quem usa a pá ou em quem fabrica a pá? Num mundo em que a IA exige escala física, as fabricantes de hardware capturam uma parcela significativa do gasto de capital e podem ser os verdadeiros motores de crescimento por trás das ambições da Alphabet e de outros hyperscalers. Seja qual for a escolha, faça a lição de casa, diversifique e mantenha o horizonte no longo prazo.