A grande reorganização das cadeias de suprimentos
A era da globalização pautada exclusivamente por custo mais baixo mostrou-se vulnerável. Empresas perceberam que trajetos ultra-longos e fornecedores distantes aumentam risco — interrupções logísticas, choques políticos e volatilidade dos preços de transporte. Vamos aos fatos: resiliência e proximidade tornaram-se prioridades. Isso significa que mercados emergentes bem posicionados logisticamente e com força digital passam a atrair investimentos industriais e de serviços.
A questão que surge é: quem se beneficia dessa nova ordem? Dois nomes emergem com força — o México e a Índia — e cada um por razões distintas, mas complementares. No México, a proximidade com os Estados Unidos favorece o nearshoring, ou relocalização produtiva. Menos tempo e custo no transporte, cadeias mais curtas e resposta mais rápida ao mercado dos EUA. O efeito prático: maior demanda por infraestrutura industrial, terrenos logísticos e, portanto, por materiais de construção e por redes de comunicação.
CEMEX (CX), por exemplo, é uma das empresas que devem capturar esse crescimento. Como grande produtora de cimento e concreto, sua exposição a projetos de construção e parques industriais pode se traduzir em receitas crescentes se a tendência de instalação de fábricas no México se consolidar. América Móvil (AMX), por sua vez, fornece a infraestrutura de telecomunicações que sustenta operações industriais modernas. Conectividade é insumo estratégico; fábricas e parques logísticos exigem redes robustas e serviços digitais.
E a Índia? Lá a vantagem não é logística, mas humana e tecnológica. O país dispõe de um vasto reservatório de jovens qualificados em tecnologia, o que o torna um centro natural para serviços de TI, automação e transformação digital. Empresas globais que buscam modernizar processos ou terceirizar atividades de alta complexidade encontram na Índia oferta de talento e custo-competitividade.
Nesse cenário, a Infosys (INFY) ilustra a oportunidade. Especializada em transformação digital, automação e soluções com IA, a companhia está posicionada para suprir a demanda por serviços que permitem às multinacionais operar com eficiência crescente, seja na Índia, seja em centros globais.
Quais setores ficam em foco? Materiais de construção, telecomunicações, serviços de TI e financeiros, além de logística. Fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE) e incentivos locais devem acelerar a construção de parques industriais e data centers. A tendência sugere um horizonte de crescimento de longo prazo, ainda que em fase inicial.
Riscos não faltam. Investir em México e Índia envolve volatilidade cambial que impacta retornos quando convertidos para reais. Há risco político e regulatório, limitações de infraestrutura, e dependência do ciclo econômico dos EUA para o nearshoring mexicano. Concorrência pode pressionar margens. Por isso, gestão de risco é essencial: hedge cambial, diversificação e due diligence operacional.
Investidores brasileiros devem também considerar a forma de exposição: BDRs e ADRs de empresas como Infosys e América Móvil, ações listadas nas bolsas locais dos próprios países, ou ETFs e fundos de ações internacionais que ofereçam cesta temática. Atenção à disponibilidade das ações (nem todas têm BDRs) e às implicações fiscais e regulatórias no Brasil: regras sobre ganho de capital, IOF e declaração no IR variam conforme o instrumento.
Isso significa comprar e esquecer? Não. Significa, sim, identificar empresas com execução consistente, avaliação atraente e planos claros para aproveitar as tendências estruturais. Pergunta final: você está pronto para considerar geografias que combinam logística e talento como parte de sua carteira? Para muitos investidores com horizonte de médio a longo prazo, México e Índia merecem uma posição estratégica — desde que acompanhadas de controles de risco e seleção rigorosa.
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Aviso: este texto é informativo e não constitui recomendação personalizada. Investimentos em mercados emergentes envolvem risco e resultados futuros não são garantidos.