O efeito Figma: como um IPO poderia remodelar o investimento em tecnologia colaborativa
O anúncio do IPO estimado em US$1,5 bilhão da Figma é mais do que um evento isolado. É um teste da nova apetência do mercado por softwares de colaboração. Vamos aos fatos: se a oferta for bem recebida, investidores podem revisar para cima as avaliações de empresas semelhantes; se não, o setor continuará a conviver com múltiplos comprimidos e volatilidade elevada.
Isso significa que plataformas como Atlassian (TEAM) e Monday.com (MNDY) estarão no centro das atenções. Por quê? Porque ambas representam o espectro mais amplo das ferramentas colaborativas — do gerenciamento de projetos ao “work OS” que organiza processos corporativos. E a Figma, ao chegar ao mercado, serve como referência de preço para o segmento.
O argumento estrutural a favor do setor é claro. A transformação digital e a adoção permanente de trabalho distribuído tornaram muitas dessas soluções parte da infraestrutura das empresas. Modelos de assinatura (SaaS) geram receita recorrente e previsível. Isso ajuda a reduzir incertezas de curto prazo e atrai investidores que valorizam fluxo de caixa estável. Além disso, efeitos de rede e integrações com outros softwares elevam o custo de troca, criando poder de retenção.
Ainda assim, oportunidades vêm com riscos. Nos últimos trimestres houve compressão significativa de avaliações: muitas empresas de software colaborativo negociam com múltiplos abaixo das médias históricas. Para investidores de longo prazo, isso cria pontos de entrada potencialmente interessantes. Mas vale a pena perguntar: vale a pena entrar agora? A resposta depende de tolerância à volatilidade e horizonte de investimento.
Do lado macroeconômico, o principal risco é a sensibilidade a taxas de juros. Ações de alto crescimento são penalizadas em ambientes de juros mais altos, porque custos de capital maiores reduzem o valor presente de fluxos de caixa futuros. Portanto, mesmo que a Figma mostre crescimento robusto, múltiplos podem permanecer pressionados enquanto as condições monetárias forem restritivas.
Há também o risco competitivo. O setor é disputado: a Adobe (ADBE) reage, plataformas abertas e nichos verticais surgem, e empresas podem perder participação se não fortalecerem integrações e experiência do usuário. Perder um grande cliente empresarial pode impactar receitas de forma relevante em modelos com concentração.
Quais são os catalisadores que os investidores devem observar? Um IPO bem-sucedido da Figma pode reabrir o apetite por ofertas e impulsionar avaliações; aquisições estratégicas por empresas maiores podem acelerar consolidação; e a expansão em mercados emergentes — inclusive o Brasil — pode ampliar a base de clientes. No Brasil, vemos empresas de tecnologia e times distribuídos adotando ferramentas colaborativas, o que sugere demanda local crescente.
Para o investidor brasileiro, há considerações práticas. O IPO estimado em US$1,5 bilhão equivale a aproximadamente R$7,8 bilhões com a cotação de US$1 = R$5,20 (em 09/10/2025). Investir em ações estrangeiras envolve custos e regras: taxas de corretagem, IOF em câmbio, e tributação sobre ganhos de capital. Mudanças regulatórias e fiscais podem afetar a atratividade dessas operações. Isso não é aconselhamento personalizado; consulte seu assessor fiscal.
No fim das contas, o efeito Figma pode redesenhar o mapa do investimento em tecnologia colaborativa. Para investidores com perfil moderado a arrojado, há motivos para observar de perto: modelos SaaS, receitas recorrentes e efeitos de rede favorecem vencedores. Mas a combinação de múltiplos comprimidos, juros mais altos e competição intensa exige seleção disciplinada e paciência.
Leia mais sobre este tema em O Efeito Figma: como um IPO poderia remodelar o investimento em tecnologia colaborativa. Lembre-se: oportunidades existem, riscos também. Avalie horizonte, tolerância e diversificação antes de tomar decisões.