Inovadores em seguros climáticos: apostando no pior do tempo
Enquanto seguradoras tradicionais se retiram de áreas de alto risco, surge uma nova geração de empresas que aposta no que a natureza tem de pior. O fenômeno é global, mas tem tradução direta no Brasil: enchentes urbanas que arrasam bairros, secas prolongadas no Nordeste e queimadas na Amazônia e no Cerrado elevam a demanda por coberturas especializadas. Vamos aos fatos e às oportunidades.
Seguradoras tradicionais estão saindo de mercados arriscados — pense na Flórida e na Califórnia nos EUA — criando uma lacuna que insurtechs e players especializados tentam preencher. Essas empresas usam IA, imagens de satélite e modelagem catastrófica para precificar riscos que outros evitam. A vantagem é dupla: melhor assinatura de risco e automação de processos, reduzindo custos e tempo de pagamento de sinistros.
O que é seguro paramétrico? Imagine um contrato que paga automaticamente quando um gatilho pré-definido é atingido — por exemplo, chuva acima de X mm, velocidade do vento acima de Y km/h ou um índice de seca. Não há necessidade de vistoria manual extensa; o pagamento é acionado por dados objetivos. É como receber o seguro do carro quando um sensor indica que houve colisão: o critério é claro e a liquidez, rápida. No Brasil, esse mecanismo pode acelerar indenizações após enchentes urbanas que paralisam cidades inteiras.
Resseguro: a última linha de defesa
Resseguradoras, como a RenaissanceRe (RNR), funcionam como o seguro do segurador. Elas oferecem capacidade financeira para absorver perdas massivas e, no processo, influenciam fortemente a formação de preço. Sem essa camada, muitos especialistas não conseguiriam suportar eventos extremos. A presença de resseguro robusto aumenta a solvência do setor e permite que novos entrantes aceitem riscos maiores.
Demanda não cíclica e poder de precificação
Desastres naturais não respeitam ciclos econômicos. Isso significa que a demanda por coberturas tende a ser menos sensível a recessões — uma característica atraente para quem busca receitas resilientes. Além disso, com seguradoras tradicionais saindo de determinados mercados, especialistas e insurtechs podem ganhar poder de precificação, desde que disponham de modelos e dados superiores.
Tecnologia como diferencial e risco simultâneo
A diferença entre ganhar e perder no segmento é tecnologia. IA e imagens de satélite permitem monitoramento em tempo real e atualizam modelos conforme novas ocorrências. Palomar Holdings (PLMR), por exemplo, usa modelagem catastrófica para precificar riscos complexos como terremotos e inundações. Lemonade (LMND) demonstra como automação e contratos paramétricos reduzem burocracia e aceleram pagamentos.
Mas a tecnologia não anula riscos. Eventos catastróficos únicos podem provocar perdas concentradas e volatilidade nos resultados. Além disso, a mudança climática corrói a utilidade dos dados históricos, tornando modelos preditivos mais incertos. A questão que surge é: confiar na tecnologia para gerir uma volatilidade que tende a aumentar?
Regulação e transparência
No Brasil, órgãos como a SUSEP e o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) desempenham papel central. Decisões regulatórias e pressão pública podem limitar reajustes de prêmio ou mudanças de cobertura. Portanto, investidores devem acompanhar exigências de divulgação de riscos climáticos e conformidade regulatória, que podem tanto impulsionar a demanda por soluções sofisticadas quanto impor restrições operacionais.
Como avaliar a aposta
Investir no setor é, em essência, apostar na capacidade de tecnologia e resseguro de gerir a crescente volatilidade climática. Há potencial de retorno significativo, mas também risco elevado — perdas concentradas podem impactar resultados com força. A diversificação, análise de modelos proprietários e avaliação da qualidade do resseguro contratado são fundamentais.
Quer uma leitura aprofundada sobre o tema? Consulte Inovadores em seguros climáticos: apostando no pior do tempo.
A aposta faz sentido para investidores que entendem riscos e dispõem de horizonte e tolerância adequados. Para os demais, a prudência recomenda exposição medida e diligência técnica antes de entrar no jogo.