A nova onda da tecnologia criativa: por que as empresas de design digital estão em alta
O recente aumento da faixa de preço do IPO da Figma acendeu um sinal claro no mercado: investidores apostam que a tecnologia criativa deixou de ser um luxo para se tornar infraestrutura corporativa. A avaliação prometida de cerca de US$ 19 bilhões — aproximadamente R$ 95 bilhões considerando US$1 ≈ R$5 — mostra apetite por modelos de receita recorrente e plataformas colaborativas.
Vamos aos fatos. Ferramentas de design e colaboração, antes vistas como "agradáveis de ter", hoje sustentam processos essenciais em equipes distribuídas. Quando centenas ou milhares de funcionários dependem de uma mesma suíte para entregar produtos, documentação e marketing, a plataforma transforma-se em peça central do fluxo de trabalho. Isso significa receita previsível por assinatura, maior valor do tempo de vida do cliente (LTV) e barreiras de saída reais. Clientes ficam "pegajosos" por integração e dados acumulados.
A questão que surge é: a inteligência artificial amplia esse mercado ou apenas decora o produto? A integração de IA tem potencial para democratizar a criação. Ferramentas que geram layouts, sugerem variações ou automatizam tarefas repetitivas podem estender a base de usuários além de designers profissionais, atingindo gerentes de produto, martech e pequenos empreendedores. Em teoria, isso aumenta o mercado endereçável. Na prática, é preciso ceticismo. Recursos de IA só justificam valor quando elevam produtividade de forma mensurável, não quando servem apenas como argumento de marketing.
Quem sustenta esse ecossistema? Grandes nomes entram tanto na infraestrutura quanto na oferta ao usuário final. A NVIDIA (NVDA) fornece GPUs e plataformas para treinar modelos e renderizar gráficos pesados. A Adobe (ADBE) já mostrou que a transição de software embalado para Creative Cloud pode gerar receita recorrente e resistência de churn. A Atlassian (TEAM) atua como infraestrutura de processos, complementando ferramentas de design. Ao mesmo tempo, startups pressionam inovação e preço, forçando incumbentes a se moverem rápido.
Quais são os riscos? Avaliações elevadas exigem crescimento consistente. Uma desaceleração macro pode provocar correções de preço relevantes. Concorrência intensa permite bundling por players maiores ou cópias rápidas por startups. E, em ciclos de aperto, contratos de assinatura podem sofrer renegociações ou não-renovações, já que empresas cortam custos. Por fim, nem toda funcionalidade de IA se traduz em economia de tempo ou dinheiro para o cliente.
O que o investidor brasileiro deve considerar? Primeiro, avalie crescimento de receita versus valuation. Segundo, entenda a composição de clientes e a taxa de retenção. Para exposição direta, o caminho usual é por ações listadas nos Estados Unidos, ADRs ou ETFs setoriais. Para quem prefere mercado local, BDRs podem ser uma opção, dependendo da disponibilidade. Atenção à liquidez e ao risco cambial: receitas e avaliações em dólares expõem o investidor à variação do câmbio.
Tributação e compliance não podem ser secundários. Ganhos com ativos internacionais precisam ser declarados à Receita Federal e convergidos para reais; rendimentos e dividendos provenientes do exterior podem sofrer retenção na fonte. Consulte um assessor tributário para evitar surpresas.
Em resumo, o sucesso do IPO da Figma reforça um tema relevante: ferramentas de criação e colaboração ganharam status de infraestrutura. Há espaço para crescimento, especialmente com IA bem aplicada. No entanto, altas avaliações, competição e sensibilidade a cortes de orçamento pedem análise cuidadosa. Vale a pena entrar agora? Para o investidor, a resposta depende de horizonte, tolerância ao risco e da convicção sobre a capacidade dessas empresas de transformar funcionalidades de IA em produtividade real.
Para uma leitura mais detalhada, veja A nova onda da tecnologia criativa: por que as empresas de design digital estão em alta.