Além de Buffett: Investindo no legado da Berkshire
A carta final de Warren Buffett marca o fim de uma era e abre uma pergunta simples: quem herda a preferência por empresas com vantagem competitiva, fluxos de caixa previsíveis e alocação disciplinada de capital? Vamos aos fatos. A transição simbólica na liderança da Berkshire Hathaway cria um ponto de inflexão que pode redirecionar capitais para companhias que replicam esses princípios. Para investidores brasileiros, isso significa oportunidades práticas — sem necessidade de grandes aportes iniciais —, desde que entendam riscos e limites.
Por que modelos como Markel, W.R. Berkley e Brookfield fazem sentido hoje? A resposta está nos fundamentos. Empresas com 'moats' competitivos, gestão alinhada e disciplina na alocação de capital tendem a gerar retornos superiores no longo prazo. Markel (MKL) e W.R. Berkley (WRB) exemplificam a vantagem estrutural do setor de seguros: o chamado float de seguro. Esse float é capital de terceiros que as seguradoras administram antes de pagar sinistros; bem investido, funciona como uma alavanca de composição de riqueza. Já a Brookfield (BN) oferece exposição a ativos reais — infraestrutura, imóveis e energia renovável — com fluxos de caixa resilientes e horizonte multidecada.
Isso significa que o investidor deve sair comprando cegamente? Claro que não. A questão que surge é compreensão e disciplina. Empresas que replicam o estilo Buffett não são clones perfeitos. É preciso avaliar subscrição conservadora nas seguradoras, qualidade operacional em gestores de ativos e, acima de tudo, consistência na alocação de capital: ampliar negócios quando barato, comprar empresas complementares com critérios rigorosos ou devolver capital ao acionista quando não há alternativas com retorno atraente.
Vamos às aplicações práticas. Markel e W.R. Berkley apresentam histórias de subscrição disciplinada e geração de float que pode impulsionar retornos por décadas. Brookfield, por sua vez, possui escala em ativos essenciais que tendem a se beneficiar de tendências seculares — urbanização, transição energética e necessidade por infraestrutura. Combine essas ideias com disciplina de valuation e periodicidade de revisão. A paciência muitas vezes vence a pressa.
A democratização é outro capítulo importante. Plataformas que oferecem ações fracionárias tornam essas estratégias acessíveis a investidores de varejo. Na prática, é possível iniciar posições a partir de £1 em plataformas como a Nemo, o que corresponde a um valor simbólico em reais — algo na faixa de R$7 a R$8 — e permite montar uma carteira diversificada sem riqueza inicial. Atenção: Nemo opera sob jurisdição do ADGM; investidores brasileiros devem verificar plataformas locais, custos, liquidez e implicações fiscais antes de transferir recursos.
Quais são os riscos? Há vários e relevantes. Sucessão na gestão pode alterar a filosofia que sustenta a vantagem competitiva. Choques macro, como recessão, reduzem demanda e pressionam resultados. Em seguros, eventos catastróficos e falhas de subscrição corroem o float. Regulação e tributação internacionais também podem afetar margens. Finalmente, avaliações podem se adiantar, comprimindo retornos futuros.
Como navegar? Comece pela seleção baseada em qualidade: margens consistentes, equilíbrio entre crescimento e retorno de capital, e transparência na gestão. Diversifique entre seguradoras conservadoras e gestores de ativos reais. Use frações de ações para testar convicções, mas mantenha horizonte de longo prazo e disciplina de revisão.
Não há garantia de retornos. Há, porém, uma linha lógica: o legado de investimento da Berkshire não termina com Buffett; ele se transforma em um mapa de princípios aplicáveis hoje. Para o investidor brasileiro, a combinação de empresas como Markel, W.R. Berkley e Brookfield, acessível via ações fracionárias, representa uma alternativa prática para perseguir resultados consistentes — desde que se respeitem riscos, governança e disciplina.
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