Por que a infraestrutura do mercado importa
O aumento do interesse de investidores brasileiros por ativos dos Estados Unidos não é apenas uma questão de busca por retorno. É também um movimento que beneficia empresas que fornecem a infraestrutura necessária para negociar e custodiar esses ativos. Vamos aos fatos: operadores de bolsa, provedores de dados e custodiante monetizam fluxos transfronteiriços por meio de receitas recorrentes atreladas ao volume, às assinaturas e a serviços tecnológicos.
A questão que surge é: como transformar essa tendência numa tese de investimento? A resposta passa por nomes como Intercontinental Exchange (ICE), Nasdaq (NDAQ) e CME, além de provedores de dados como MSCI e corretoras internacionais representadas por Interactive Brokers (IBKR). Essas empresas cobram taxas de listagem, comissões de negociação, assinaturas de dados e licenciamento de plataformas. Isso significa receitas menos voláteis do que o lucro puramente ligado ao preço de um ativo.
A infraestrutura gera receita de três maneiras claras. Primeiro, taxas por volume: quanto mais operações, mais comissões e processamento. Segundo, assinaturas de dados: índices, cotações em tempo real e analytics têm margens elevadas e contratos recorrentes. Terceiro, serviços de tecnologia: licenciamento de sistemas de negociação e soluções de custódia para bolsas e instituições em mercados emergentes. Essa combinação oferece resiliência quando os ciclos de mercado são turbulentos.
Barreiras regulatórias, efeitos de rede e custos de troca criam fossos competitivos difíceis de replicar por novos entrantes. A New York Stock Exchange, por exemplo, não é apenas uma praça de negociação; é um ecossistema com participantes, regras e connectores que favorecem incumbentes. Exchanges e provedores de dados cultivam relacionamentos institucionais e compliance robusto, o que aumenta o custo de substituição para clientes.
Riscos existem e devem ser considerados. Mudanças regulatórias podem alterar estruturas de taxas ou frear fluxos transfronteiriços. A disrupção por novas tecnologias, como plataformas alternativas ou soluções DeFi, também é plausível. Além disso, investidores brasileiros enfrentam risco cambial: ganhos em dólares perdem poder de compra se o real se valorizar ou, inversamente, podem diminuir ao converter para BRL num cenário de queda do dólar. E claro, queda de volume em crises reduz receitas vinculadas à negociação.
Como isso afeta o investidor brasileiro na prática? A crescente sofisticação permite uso de derivativos para hedge, enquanto plataformas reguladas facilitam o acesso. A Nemo, regulada em ADGM, permite comprar ações fracionárias a partir de US$1. Isso democratiza o acesso e possibilita exposição a empresas de infraestrutura sem precisar investir valores elevados. Importante lembrar: ao comprar em dólares, é preciso considerar taxas de câmbio, tarifas da corretora e, quando aplicável, regras da CVM sobre produtos e custódia.
Que catalisadores podem impulsionar esse tema? Crescimento da riqueza em mercados emergentes, maior demanda por dados e tecnologia em bolsas regionais, e volatilidade que aumenta o volume de negociação. Esses fatores tendem a beneficiar o modelo de receitas recorrentes de operadores e provedores.
Portanto, a tese é defensiva e diversificada. Investir em infraestrutura de mercado oferece exposição indireta ao crescimento dos fluxos internacionais, com menos sensibilidade à variação pontual dos preços das ações negociadas. Isso não é garantia de retorno. É uma estratégia que deve ser considerada dentro de uma alocação diversificada e compatível com riscos pessoais.
Leia mais sobre essa abordagem em A infraestrutura por trás do investimento internacional: por que estas ações dos EUA são importantes.